sexta-feira, 30 de maio de 2008

Lembrança

Minúsculos grãos de areia escapam entre os dedos da mão
Misturam-se ao tapete arenoso que forra meu chão...
Desenhos esboçados nas nuvens com textura de algodão
Ondas do mar que se quebram violentas no costão...
No calor da tarde, a brisa sopra inspiração
Uma idéia, um estalo, imaginação
A rima é pobre, mas a lembrança não...

(Priscila P. Mendes)


quarta-feira, 21 de maio de 2008

Onze meses

Hoje comemoramos onze meses de vida do Gustavo.
Há onze meses este filho chegou para nos encantar e ensinar. Ensinar que sofrer e chorar faz parte da vida e que perder batalhas não implica em perder a guerra. É o que temos aprendido, desde que fomos apresentados ao nosso pequeno Gustavo, naquela fria manhãzinha de junho- a primeira manhã de inverno de 2007.
Dias depois, nosso bebê nem havia completado seu primeiro mês de vida, descobrimos que algo não ia bem. Lembro-me claramente de quando ouvimos o primeiro diagnóstico para o, até então, desconhecido problema de saúde do Gu: cardiopatia congênita . Era uma tarde chuvosa. O céu chorava, e nós também.
Quando pensávamos que já sabíamos tudo, a bomba: a cardiopatia era maior do que revelara o primeiro diagnóstico. Naqueles breves instantes que sucederam a notícia, perdemos o chão sob nossos pés. Lembro-me de engolir em seco enquanto olhava atônita para o André. O susto nos fez esquecer de chorar.
Em sequencia vieram as três cirurgias . A segunda não fazia parte do plano traçado pela equipe médica, mas teve que acontecer em caráter de urgência. Que sufoco! Foram dias e noites de grande expectativa.
Cada uma das internações do Gustavo nos reservou emoções e experiências únicas. As cenas, nítidas na memória, remetem às pessoas, palavras, sensações e sentimentos vivenciados nos corredores do hospital Beneficência Portuguesa. Quantas vezes cruzamos os corredores da UTI com passos apressados, buscando na memória, letras de canções que fortalecessem a fé e confortassem a alma, então mergulhada num misto de angústia e esperança. A linha que separava estes sentimentos era muito tênue.
Havia momentos, e não foram poucos, em que nos sentimos literalmente carregados por uma mão invisível, na qual encontrávamos sustento e descanso. Sabíamos que esta graça maravilhosa era resposta às orações feitas a Deus, por amigos, familiares e tantos outros que, mesmo sem nos conhecer, juntaram-se ao fronte para lutar conosco. Cremos no poder sobrenatural das orações feitas ao Pai, em nome de Jesus.
Tão cedo, descobrimos em nosso filho um forte e alegre guerreiro, mesmo que aparentemente frágil e abatido. Seu sorriso meigo clareava o horizonte das nossas expectavivas.
Tivemos o privilégio de sair do hospital com o Gustavo se recuperando bem, nas três vezes em que foi operado. Cada alta médica significava o maior acontecimento de nossas vidas. E como era delicioso voltar para casa!
Graças a esta "escola", aprendemos a valorizar pequenas vitórias com o mesmo entusiasmo que as grandes, tal como a que tivemos recentemente: o cardiologista do Gustavo concluiu, após avaliação clínica, que não há mais necessidade de medicação. Seu coraçãozinho está, enfim, curado!
Que reviravolta! Meses atrás, o mesmo médico havia nos dado o diagnóstico e alertado para a gravidade do caso. Não poderíamos prever, naquela ocasião, que um dia experimentaríamos tamanha felicidade naquele mesmo consultório.
Diferente da primeira consulta, esta última aconteceu numa manhã ensolarada de outono.
Fomos surpeendidos pela alegria...
Entre dias de tempestade e outros tantos de sol, já se passaram onze meses. Até aqui nos ajudou o Senhor.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Nota - O Cravo e a Rosa





Uma nova versão para este caso:

Disseram que o Cravo brigou com a Rosa. Mas um grilo-falante me confidenciou que não foi bem assim. Eles apenas discutiram a relação, que, aliás, vai muito bem obrigado. Também disseram que foi bem ali, debaixo de uma sacada. Existem controvérsias. A joaninha afirmou categoricamente que tudo aconteceu no canteiro das flores, ao lado da placa de “Proibido pisar na grama”. E para completar, os sensacionalistas de plantão espalharam ao vento que o Cravo saiu ferido e a Rosa despedaçada. Nada disso. Ao cabo da longa conversa, nada mais aconteceu, se não um beijo de reconciliação. Por fim, o Cravo e a Rosa, encabulados, resolveram processar o bem-te-vi por difamação.

domingo, 11 de maio de 2008

Sunset


Linda poesia. Linda canção composta pelo Stênio Marcius.
Amo fim de tarde. Pôr-do-sol. Nuances de cores que se misturam às nuvens dispersas. É a volta para casa, o reencontro...

Fim de tarde no portão
A cabeça branca ao relento
Teimosia de paixão
Faz das cinzas renascer alento

Na estrada o seu olhar
Procurando um vulto conhecido
Espera um dia abraçar
Quem diziam já estar perdido

O seu amor é tão forte
Mais que o inferno e a morte
São torrentes que arrebentam o chão
Mais fácil secar os mares
Apagar a estrela Antares
Que arrancar o amor de seu coração
Fim de tarde se debruça no portão

Mas um dia aconteceu
E o moço retornou mendigo
O pai depressa correu
E abraçou o filho tão querido

Tragam roupas e o anel
Calçem logo os seus pés, milagre!
Vinho do melhor tonel
Tanta alegria em mim não cabe

O seu amor é tão forte.....Fim de tarde, está deserto o portão

segunda-feira, 5 de maio de 2008

"Religare"

Religiões acompanham o homem bem antes do que os registros históricos podem revelar (o próprio ego constituí-se a mais antiga e popular dentre as religiões).
Jesus não criou uma nova religião, tampouco uma nova filosofia. Não consigo imaginá-Lo percorrendo as ruas empoeiradas entre as multidões que O seguiam, convidando-as para aderirem a um movimento religioso, ou ainda, convencendo-as através de discursos. Se fosse para isso, Sua vinda não teria valido a pena. Aliás, a vida não faria sentido, porque a morte não teria sido vencida.
Mas sim, vejo um Jesus que andou entre homens para tornar-Se o resgate de Deus para eles. Deus se fazendo um de nós para que compreendêssemos o Conhecimento que traz sentido a nossa existência. Conhecimento, cuja compreensão está disponível a qualquer um, seja pobre, rico, feio, bonito, culto, inculto. Conhecimento demonstrado na prática para que não reste dúvidas de como aplicá-lo. Jesus faz valer a expressão religare, no puro sentido, porque nos liga novamente a Deus.
Pois se a vida fosse só filosofia ou religião, quão pobre e vazia sina a da humanidade!


sexta-feira, 2 de maio de 2008

Eppur si mouve - Affonso Romano de Sant'Anna




Não se pode calar um homem
Tirem-lhe a voz, restará o nome
Tirem-lhe o nome
e em nossa boca restará
a sua antiga fome

Mente quem fala que quem cala consente.
Quem cala, ás vezes, re-sente,
Por trás dos muros dos dentes,
edifica-se um discurso transparente...

A ausência da voz
é, mesmo assim, um discurso.
É um rio vazio, cujas margens sem água
dão notícia de seu curso...

Por isso que o silêncio
da consciência,
quando passa a ser ouvido
não é silêncio
- é estampido