segunda-feira, 27 de maio de 2013

Papéis

          Acabou. Foi o que pensei ao me despedir de uma pilha volumosa de artigos científicos.Tratava-se de centenas de artigos impressos, muitos dos quais encadernados, que acumulei durante sete anos vividos entre doutorado e pós-doutorado.
     Abarrotei o cesto de reciclados, que ficou cheio até as bicas de tanta Ciência. A primeira sensação que me visitou foi a de alívio, depois, a de saudade. E, por fim, a satisfação por vencer a inércia daquele arquivo morto.
    Mas, convenhamos que não acabou... Os artigos estavam tão estagnados quanto inúteis, ocupando um canto remoto do armário, onde eram somente lembrança. Agora se tornaram material com utilidade para alguém que não conheço. Provavelmente, vão ocupar alguma carriola que circula anônima pela cidade, e quem sabe ainda hão de se tornar moeda de troca e garantir o pão na mesa desse alguém. Só por isso, valeu me desfazer de cada parágrafo grifado com marca-texto amarela.
     Pois, afinal, na vida, não se deve temer o recomeço. E o que é reciclar, se não um recomeçar, sem ter de abrir mão das nossas experiências idas, que um dia se tornam vindas e, por isso, bem vindas.
    Aquelas centenas de artigos reciclados simbolizam o meu anseio por transformar esse passado em recurso que sacie a fome de outrem.
    Ah, eu sei...Nada tem sido por acaso.