sexta-feira, 28 de junho de 2013

Uruguaiana, 399

            Geralmente, quando estou muito cansada e me sento por alguns minutos em frente a uma janela iluminada, fecho os olhos, e imagino morar em uma rua de casas construídas com tijolos à vista, rodeadas por jardins coloridos. Para cada casa há uma janela generosa, emoldurada com esquadrias de madeira, e uma varanda nos mesmos tons de marrom, completando o bucolismo da cena.
      Ora, vejam... Essa rua não é a rua da minha casa, o que não quer dizer que a rua da minha casa seja melhor ou pior do que aquela. A rua onde moro, por dezenas de razões, é muito peculiar, a começar pelo nome que é nome de uma cidade - Uruguaiana- onde, por sinal, nunca estive.
      E que interessante uma rua com complexo de cidade (e será que não o é?)
      Aqui - e talvez somente aqui - existe uma árvore sonora, não por acaso localizada em frente à padaria. Por volta das cinco horas da tarde, os pássaros das ruas adjacentes se recolhem todos para lá e ficam a trocar experiências acumuladas do dia que se finda. Imagino como a vida de um pássaro da cidade deva ser agitada, a julgar pela algazarra do “happy hour” da passarada. Se alguém um dia lhe perguntar sobre um point quente na Uruguaiana, aponte para aquela árvore e responda: ”É logo ali!”
     Sim... Já sei que sentirei saudade daqueles pássaros. E do alvoroço que eles fazem ao final das tardes.
     Outra característica dessa rua são as guias das calçadas, todas tão altas que, por várias vezes, já tive medo de torcer o pé. Pior, medo de derrubar o bebê de dentro do carrinho. É possível que algum forasteiro, ao caminhar por esses passeios altivos, suponha não haver deficientes físicos residentes na Rua Uruguaiana, o que seria ledo engano de se pensar, já que residem e resistem bravamente.
      E para completar, poderia citar tantas outras curiosidades típicas desse logradouro, mas decidi focar o fechamento desse texto num edifício especial, que por pouco não escapa da Rua Uruguaiana para a Rua Barão de Jaguara: o colégio que ocupa a esquina em frente ao prédio de número 399.
      Seis anos vividos no mesmo endereço, e apenas seis meses dentro desse colégio. Sentirei saudades, embora não tenha sido eu a aluna daquela professora dedicada, e nem tenha sido eu a cruzar esbaforida por aqueles pátios, ou a compartilhar do momento de lanche com os colegas da classe. Mas, creiam, é como se tivesse sido. Cheguei a essa altura da vida para perceber que a infância da gente acontece uma vez apenas, para que tenhamos gosto em acompanhar a infância dos filhos que Deus nos dá; sejam os filhos de sangue, sejam os filhos de coração.
      E já que toda despedida tende a ser triste, melhor não colocar ponto final nesse texto e chamá-lo apenas de capítulo.Por conseguinte, esse será o primeiro.
                

terça-feira, 11 de junho de 2013

Do Elo Perdido


       Sim, o segundo filho incrementa a rotina da gente. Por certo, o mesmo acontece com o terceiro, quarto, quinto...
  Mas as pérolas dos filhos mais velhos não passam em brancas nuvens. Por isso que dou um jeitinho de transcrever algumas mazelas do meu cotidiano.
   Hoje, pela manhã, aconteceu mais ou menos assim:
   - Gu, gosto tanto do seu nome! Cada dia mais me convenço de que escolhi o nome certo pra você.
    -Mas por que você não escolheu o nome Alberto? Eu gostaria de me chamar Alberto...
    - Ué, por que Alberto?
   -Porque é nome de dinossauro. Então, por que você não colocou Albertossauro em mim?
    -E isso lá é nome de gente?
     E o menino conclui:
    -Não. As meninas iam ter medo de mim.
    O motivo para que eu não tenha colocado “Albertossauro” não foi esse, com certeza. Aliás, nem sabia que existiu dinossauro com esse nome...(e ele está certo: Albertossauro é uma homenagem ao cientista que descreveu a espécie do dino).
   Se bem que, depois desse argumento totalmente convincente, passei a concordar com ele.