quarta-feira, 24 de setembro de 2008

...É viver por toda a eternidade

Eu não tenho explicações para as experiências que passamos com o Gustavo, em seus primeiros meses de vida – e nem pretendo tê-las. Porém, o que sei, é que o sofrimento, as lágrimas, o medo e as súplicas transformaram-se em uma certeza ainda maior, de que fizemos a escolha mais lúcida da nossa vida, ao entregar nosso coração para Aquele que é Eterno. O Senhor, quem nos amparou até quando nossos pés vacilaram.
O resto, (leia-se tudo que for externo), é mero detalhe. Ou, como diria um professor sabichão que conheci, é “encher de florzinha”.
Dez leprosos foram miraculosamente curados por Jesus. Nove deles, estupefatos, correram ao encontro de seus familiares para compartilhar a alegria da cura. Apenas um deles se lembrou de agradecer, voltando-se ao Autor do milagre. Sempre penso que este homem compreendeu a mensagem do “bem maior”.
Almejo alcançar a fé e a sabedoria do ex-leproso samaritano. Afinal, as florzinhas desbotam e perdem sua beleza. Existe um “bem maior”...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Escrevo, enquanto existo

O que mais posso fazer na vida, senão escrever? Escrever, escrever, escrever... Dar vazão aos meus acessos, e dedicar-me a estes excessos que já não cabem somente em mim.
Escrever sobre amores? Que tal, conheço-lhes bem? Sim, certamente! Eis uma boa pedida! Mas, que nada... Estou tranquila neste departamento. Nada de dores ou dilemas que me tornem uma engenhosa artista, daquelas que arrancam lágrimas de prazer do leitor, inconsolável pelo amor reprimido. Mas ainda me resta escrever sobre as mazelas de um amor imaginário, do sentimento abstrato, das divagações de porta de botequim. Nada disso! Sou incapaz de alcançar tamanha genialidade.
Inspira-me a frivolidade da vida? O ser humano descartável; objeto de escárnio da sociedade moderna. Pesado demais para mim este tema. Receio entrar nele e sair de muletas, capengando numa filosofia demagoga. Decerto, terei material suficiente para preencher incontáveis folhas em branco e deliciarei meu espírito, ávido por devorar um dragão, mas... Recuo!
Que tal usar como material meus dramas pessoais? Minha busca, minha fuga, as frustrações do meu passado, a inconstância do meu presente, a incerteza do meu futuro... Arre! Para que escrever uma tese sobre mim? Estou lúcida o suficiente para encarar que sou normal, e pessoas normais não viram temas de romances (aqui cabe uma observação: o que é normal?).
Existem outros temas que façam jus a um poema? Tantos quantos já existem e há séculos são eloquentemente explorados. O que sobrou de criativo e inovador para este mote?
Cheguei ao fim, sem ao menos encontrar o começo do labirinto. Sei que quero escrever, sem, contudo, saber sobre o quê deveria...
Tarde demais para escrever sobre fadas, príncipes, princesas, bruxas e animais falantes. Cedo demais para escrever uma antologia ou biografia.
Penso apenas sobre o que sinto agora: sinto todos os sentimentos juntos, embalados por uma alegria autêntica, incontida.Esqueço-me das impiedades, banalidades e obscuridades da vida. Ao menos agora, finjo não ver a hipocrisia e falsidade reinante neste universo hostil. Entrego-me a escrever sobre nada, além desta alegria...
Alegria de escrever, de colocar em sequência as palavras, sem intencionalidades, sem responsabilidades, sem peso, nem culpa. Sou apenas os dedos que passeiam livremente pelas teclas do computador.
E, grosso modo, isso me basta para continuar escrevendo. Com ou sem público.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Prece

Ao que, à própria sorte, lançou seus pedidos
E afogado em delírio ouviu retornar,
O eco de seu clamor, solitário e triste
Até que por fim, desistiu de esperar,
Acreditando receber da vida, apenas desventura

Talvez haja um sopro de mudança à vista
Quando o sol primaveril romper no céu
Em suave alarido, se fizer ouvido
Ao invés de silêncio, sons alegres de festa
E quando esse tempo chegar, permita-se iluminar!

No clarão que o invade, exponha seu íntimo receio
Acalente a esperança em teimosa valentia,
Lance mão de todo inútil preconceito
E se surpreenderá com sua prece respondida

(Priscila P. Mendes)