segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Segunda-feira

Um dia após o outro. Só que este, quente, muito quente...Daqui eu vejo as núvens branquíssimas se acumulando no azul majestoso do céu. Uma hora destas vai chover. E, por falar em chuva, amo o cheirinho que ela traz. Um fundo de orvalho, antes dos primeiros relâmpagos e trovões imporem respeito. Desde criança tenho faro aguçado para chuva. Amo!

domingo, 28 de dezembro de 2008

Último domingo do ano.

O domingo está valendo um post. Na verdade, todos os dias valem, mas nem sempre consigo driblar a falta de tempo e me sentar em frente a este computador para escrever. Já cedo, meu amore comentou como o dia acordou lindo. Pela janela da cozinha se via uma gravura bem-humorada do sol brilhando no céu azul límpido. Assim começou nosso dia. Meu, e dos meus dois amores.
Hoje, entendi que o conceito de biogênese faz todo sentido quando se refere ao que Deus faz na vida da gente. Ele não reforma pessoas. Este negócio de dar jeitinho, é coisa nossa. Ele faz é nascer de novo. Cria vida a partir da ausência de vida. Simples assim.
Ele quer a gente como se é. Cheio de rusgas, fétido e maltrapilho. Devolve a dignidade ao homem. Hoje me lembrei mais uma vez disso, do quanto me amou.
Faz muito bem, obrigada, abastecer a memória com estas lembranças. Assim não se esquece de que a vida é muito mais do que os olhos enxergam. Mais do que ilusões oferecidas pela sociedade, que a gente compra achando o máximo. Libertar-se das imagens faz um bem danado pra alma. Ah, se o mundo todo soubesse...
Mudando ligeiramente de assunto (mas continuando a falar sobre lindezas), o Gu está cada dia mais mocinho!
Hoje o dia teve 24 anos, porque curti cada horinha, valendo quase uma vida inteira. Gostoso viver, quando a gente passa a entender para quê se vive. E quanto mais simples, melhor. Igual pão com manteiga, mais simples e gostoso, não conheço.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Motim

Tem hora que a gente quer gritar ao mundo aquilo que sente mas não encontra palavras coerentes que façam justiça aos sentimentos. As palavras se enroscam formando um emaranhado de frases rasas. Daí, o que resta pra gente é suspirar. Um suspiro alto e profundo, que chegue até a caverna onde os sentimentos permanecem escondidos. Que lástima não conseguir arrancá-los dali. Mesmo que a gente se dobre e desdobre feito origami.
O que são as palavras que a gente usa? Como podem nos abandonar hora destas? Voltem! Haja vocabulário que traduza a diversidade dos sentimentos! Como verbalizar uma lágrima? E um sorriso?

"Um mesmo sentido muda de acordo com as palavras que o exprimem. Os sentidos recebem sua dignidade das palavras em vez de conceder-lhes esta dignidade."(Blaise Pascal)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

The Cafe Terrace on the Place du Forum, Arles, at Night, 1888 (Van Gogh)


Naquela noite de sexta-feira, senti as estrelas mais próximas dos homens. O céu atingira o tom marinho mais intenso que meus olhos já haviam testemunhado. Sentado no terraço frente ao Café, reclinei a cabeça em atitude contemplativa. As ruas da cidade estavam quase vazias. O cenário de introspecção se completava graças a luz pálida que escapava do interior das casas ao redor do estabelecimento. Ainda em êxtase, levei à boca uma xícara de chá que repousava sobre a mesa. Um aroma quente de jasmim percorreu o caminho até minhas narinas, precedendo o sabor marcante da bebida prestes a ser deglutida. Voltando a mim, notei um casal que caminhava no passeio público. Observei, curioso, suas expressões faciais a fim de desvendar o enigma daquela conversa íntima. A dama vestia um elegante vestido em seda turquesa à moda daquele ano de 1888. O porte delicado indicava tratar-se de uma jovem. Seu acompanhante aparentava um homem de meia idade trajado elegantemente para nossa época.
Pareceu-me interessante analisar o casal, visto que já explorara o céu e seus luminares em demasia. Por hora, dediquei-me por completo à nova ocupação. A penumbra se opunha entre mim e meu objeto de estudo, motivo pelo qual forcei os olhos na tentativa de capturar detalhes mais precisos. Ao meu lado, apresentou-se um rapaz franzino aparentando não mais do que vinte anos. Pele clara, olhos muito expressivos, porém pequenos. Senti certa melancolia naquele olhar subalterno e logo me condescendi à sua frágil figura. Em voz rouca me perguntou se gostaria de outra xícara de chá. Só então notei que trazia um avental amarrado sobre a camisa gasta, mas muito bem asseada. Abduzido por aquela nova distração, não me ocorrera que a xícara estivesse vazia. Meneei a fronte de forma afirmativa e reservei-me o direito de voltar ao meu estudo, que mal começara já havia sido interrompido.
Que singular a figura daquela mocinha. Ao longe não consegui construir a perfeita imagem de sua fisionomia, mas procurei deduzi-la a partir dos elementos que o luar me permitia conhecer. Busquei uma voz condizente com sua jovialidade. Muito provavelmente, casaria bem com um timbre claro e suave. Adoraria ouvi-la cantar. Quem dera a brisa fresca da noite me trouxesse uma amostra da sua voz!
O casal caminhava em direção ao Café, sem, contudo, esboçar aproximação. Temi que continuassem em frente, não atraídos pelo aroma exótico das bebidas quentes consumidas pelos frequentadores do local. Minha suspeita se confirmava conforme avançavam pelo passeio público.
Neste ínterim, o rapazola voltou trazendo uma nova xícara de chá fumegante. Apressou-se em servir a bebida de modo gentil. Dispensei-lhe pouquíssima atenção, pois não conseguia me desvencilhar daquela desconhecida que roubou meu interesse pelas estrelas. Cético, acompanhei os passos do casal enquanto se afastavam do meu campo de visão. Que triste fim para um devaneio que começara tão promissor. “Eu a perdi! Eu a perdi!” Revoltado, lamentei minha falta de sorte. Eu poderia tê-la visto frente a frente e conhecido os detalhes de seus traços. Quem sabe escutaria o teor da conversa entre os dois transeuntes, desvendando o mistério em torno daquela relação. Decerto, perdi a oportunidade de responder aos questionamentos obtusos da minha mente.
Desanimado com a idéia de criar novo passatempo para enquanto durasse aquela segunda xícara de chá, voltei minha atenção ao céu e às estrelas que se exibiam naquela noite de sexta-feira.
(Priscila P. Mendes)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Feito gente e gato

Como de costume, levantou-se da cama um tanto esquizofrênico. Estava para poucos amigos. Arqueou as pestanas cerradas e alisou os pelos do bigode. Um hábito matinal. Desejou um pouco de leite e logo ganhou o chão frio do quarto. Chegando à boca da cozinha, lembrou-se do prato. Diacho, onde o haviam colocado? Rodopiou pelo chão de porcelana branca e num só movimento, alcançou a bancada. O prato pintado à mão se estatelou no chão, produzindo uma chuva de pequenas setas pontiagudas. Esses doidos ainda me matam! Parecia dizer com os bigodes encostados nos cantos da boca. Um sorriso indiferente se formou ponta a ponta no rosto amassado.
Ia me esquecendo de contar que o ato espalhafatoso na cozinha gerou certo alvoroço no quarto vizinho. Ouviu-se dali uma exclamação na voz aguda de mulher, ainda atordoada de sono. Quase em uníssono, uma voz masculina procurava pelo autor da façanha. Tateava inultilmente a cama, esperando encontrá-lo. Os dois coitados, arrancados do aconchego proporcionado por uma pesada manta de patchwork, correram até a cozinha, onde encontraram o gato de olhar meigo e bigodes franzidos, como que se justificando por aquele ato falho.
Ambos se comoveram com a patética cena. A moça se inclinou em direção ao felino que, se fosse gente, teria como dar de ombros (porque parecia não se importar). Mas como era gato, caprichou num miado que soou como um irresistível pedido de desculpas. Querido, o importante é que não tenha se machucado, disse ela com gestos maternais. O homem se apressou em tirar todos os pedacinhos de perigo que recobriam o chão. Mais uma vez, o bichano afundou-se nos braços roliços de sua mamãe postiça e recebeu todo o carinho e atenção que a vida lhe reservara.
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Era uma manhã de sábado. A luz invadira seu último sonho. Ele se levantou enjoado de dormir e como de costume, foi serelepe até a sala de estar. Oba, já é dia! O cabelo espetado alegrava o rosto marcado de cama, conferindo-lhe um ar engraçado. Ainda se aconchegava no sofá de veludo enquanto os dedinhos ariscos procuravam o controle remoto da televisão. Naquele momento foi que percebeu um ruído no fundo do estômago. Estava faminto. Dirigiu-se até a cozinha a passos curtos, tocando o chão gelado de porcelana branca. Cantarolava alguma música.
Lembrou-se de que da noite anterior sobrara um pedaço de bolo gostoso. Era de milho ou de fubá? Sei não, concluiu sozinho. Mas sabia que estava bom toda a vida, e nada mais lhe interessava no mundo, além daquela porção de delícia. Acho que consigo pegar sozinho! Concluiu com total confiança. Espichou o corpo curtinho o máximo que pôde até que seus pés quase nem mais tocassem o chão. Que grande aventura, pensava consigo fazendo ares de importante. Foi quando, fugindo ao controle, o prato pintado à mão mais o bolo amarelo voaram bancada abaixo. O prato estatelou-se em mil pedacinhos. Essa não! O bolo virou farofa doce misturada aos cacos de vários tamanhos espalhados pelo chão. Ai, e agora? Repetia inconsolável. E ainda estava descalço. Os olhos ameaçavam romper em pequenas lágrimas.
O estrondo repentino surtiu efeito no quarto vizinho. De lá partiram vozes abafadas. A mulher balbuciava palavras com pouco sentido, em tom azedo. Puseram-se em pé, homem e mulher, ainda sem vontade de abrir os olhos. Arrastaram-se até a cozinha e vislumbraram o ocorrido. Era o filho desajeitado. Mas que menino, nunca aprende! Não sabe que é perigoso entrar na cozinha, sozinho? E ainda descalço! Esbravejaram formando rugas na testa. O garoto se encolheu, ficando até menor do que seu tamanho real. Desculpa! Olhou tímido para os dois à porta da cozinha. Chegou mais perto, esquivando-se do medo. Enlaçou seus heróis pelas pernas, complementando o pedido anterior . Desconcertado, o casal retribuiu o carinho do garoto com um abraço demorado.
O gato parecia alheio ao episódio contracenado pela família Souza. Aquecido pela manta de patchwork, miou desafinado porque estava com fome.

(Priscila P. Mendes)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

(ah...)


Cansada de superficialidade. Intelectualidade. Formalidade. Panelinhas. Picuinhas. Diferenças.
Venhamos e convenhamos que tudo isso é muito, muito chato.
Estou à procura de outro horizonte. Simples de tudo. Onde eu seja tão somente eu. Aceita de cara lavada. Alma nua. Frases curtas.
Liberta da forma. Da estrutura. Do padrão. Dos achismos e preciosismos.
Para falar sobre um cheiro-amarelo. Uma menina banguela. Um dèjá vou.
Ah...