Faz tempo que estou pra colocar no papel um acontecimento que me marcou
profundamente, mas não encontro começo para o enredo. Contudo, de hoje não passa,
portanto, aí vai...
Há alguns anos atrás, o Gustavo
ainda fazia acompanhamento com a terapeuta ocupacional, quando, numa das
sessões, ela me garantiu que o menino teria muita dificuldade para usar a
tesoura. “Falta desenvolver a coordenação motora grossa, o que dirá a fina...”,
foi o que escutei naquela manhã.
A declaração da profissional foi
suficiente para me entristecer nos dias posteriores, haja vista, o menino já
completaria quatro anos. Pensei comigo, qual alarde haveria em segurar e
manipular a dita cuja da tesoura. Mas, enfim... Foi o que ela disse.
Fiquei por um bom tempo ruminando a
informação, quase já aceitando a “profecia”. No entanto, o passar dos meses
revelou que nem todas as previsões necessariamente acontecem na vida da gente
conforme dita a teoria. As pessoas, inclusive as bem intencionadas, nos afirmam
certas verdades que, ora se aplicam, ora não se aplicam à nossa realidade. Bem
ou mal, aquilo ficou gravado na minha memória em letras garrafais.
Nesse ínterim, o Gustavo cresceu mais
um pouco, chegando aos dias de hoje, - mais precisamente a 2013- ano em que
ganhou uma irmã. Também eu cheguei aonde gostaria de chegar nesse relato:
Dia desses, enquanto trocava a fralda
da Lydia, percebi a etiqueta da roupinha de bebê precisando ser cortada. Solicitei
a ajuda do menino. Pedi que pegasse uma tesoura. Dali a pouco ele entra no
quarto, abrindo e fechando as lâminas da tesoura que trazia na mão:
-O
que você vai fazer com essa tesoura, mamãe? Cuidado, hein?
Achei graça da preocupação do menino. É claro
que tomaria cuidado. Eu sou a mãe, poxa! Por outro lado, foi impossível não me
emocionar ao vê-lo entrar no quarto segurando aquela tesoura com tanta
naturalidade, como se anteriormente não houvesse acontecido a manhã daquela
declaração fatídica para meus anseios de mãe.
Foi então que a ficha caiu, digamos assim. É
fato que as dificuldades de coordenação ainda existem...Contudo, atinei que,
aos cinco anos, o Gustavo cortava e recortava sozinho, sem nossa ajuda, prova
de que nem tudo que a gente pensa ser absoluto, realmente será.
Por essa e por outras é que insisto
comigo mesma de que não vale à pena sofrer com fatos preditos, em geral,
enquanto não passam de meras palavras. Vivamos um dia por vez, sem preconizar
ansiedades, afinal, para cada dia basta o seu próprio mal.
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