segunda-feira, 1 de julho de 2013

Pedra, papel, tesoura


          Faz tempo que estou pra colocar no papel um acontecimento que me marcou profundamente, mas não encontro começo para o enredo. Contudo, de hoje não passa, portanto, aí vai...
     Há alguns anos atrás, o Gustavo ainda fazia acompanhamento com a terapeuta ocupacional, quando, numa das sessões, ela me garantiu que o menino teria muita dificuldade para usar a tesoura. “Falta desenvolver a coordenação motora grossa, o que dirá a fina...”, foi o que escutei naquela manhã.
    A declaração da profissional foi suficiente para me entristecer nos dias posteriores, haja vista, o menino já completaria quatro anos. Pensei comigo, qual alarde haveria em segurar e manipular a dita cuja da tesoura. Mas, enfim... Foi o que ela disse.
   Fiquei por um bom tempo ruminando a informação, quase já aceitando a “profecia”. No entanto, o passar dos meses revelou que nem todas as previsões necessariamente acontecem na vida da gente conforme dita a teoria. As pessoas, inclusive as bem intencionadas, nos afirmam certas verdades que, ora se aplicam, ora não se aplicam à nossa realidade. Bem ou mal, aquilo ficou gravado na minha memória em letras garrafais.
     Nesse ínterim, o Gustavo cresceu mais um pouco, chegando aos dias de hoje, - mais precisamente a 2013- ano em que ganhou uma irmã. Também eu cheguei aonde gostaria de chegar nesse relato:
    Dia desses, enquanto trocava a fralda da Lydia, percebi a etiqueta da roupinha de bebê precisando ser cortada. Solicitei a ajuda do menino. Pedi que pegasse uma tesoura. Dali a pouco ele entra no quarto, abrindo e fechando as lâminas da tesoura que trazia na mão:
     -O que você vai fazer com essa tesoura, mamãe? Cuidado, hein?
   Achei graça da preocupação do menino. É claro que tomaria cuidado. Eu sou a mãe, poxa! Por outro lado, foi impossível não me emocionar ao vê-lo entrar no quarto segurando aquela tesoura com tanta naturalidade, como se anteriormente não houvesse acontecido a manhã daquela declaração fatídica para meus anseios de mãe.
   Foi então que a ficha caiu, digamos assim. É fato que as dificuldades de coordenação ainda existem...Contudo, atinei que, aos cinco anos, o Gustavo cortava e recortava sozinho, sem nossa ajuda, prova de que nem tudo que a gente pensa ser absoluto, realmente será.
    Por essa e por outras é que insisto comigo mesma de que não vale à pena sofrer com fatos preditos, em geral, enquanto não passam de meras palavras. Vivamos um dia por vez, sem preconizar ansiedades, afinal, para cada dia basta o seu próprio mal.

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