quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Um beta chamado Beto (In memoriam)


        
          
            Triste, triste mesmo, é testemunhar a vida definhando. Seja ela de que tipo for, sendo vivo, é triste ver morrer.
          Neste exato momento, enquanto escrevo essas linhas, divido a sala com um peixe betta que definha irreversivelmente. De vez em quando volto o olhar para conferir se o peixe ainda luta. Em pensar que há menos de um mês chegou assanhado a essa casa, com seu vermelho reluzente, o mesmo que agora desbota gradativamente... Não dá para entender o porquê dos bettas serem criaturas tão frágeis.
          Ao invés de agitar as nadadeiras bailarinas, arrasta-se pelos cantos do pequeno aquário tal qual um notívago que foge da luz. Por duas vezes já tentei alimentá-lo sem obter sucesso. Outrora, era certeiro nas bolotinhas de ração que pingavam na superfície da água, golfando uma a uma sem qualquer cerimônia. Também outrora, o chamávamos - “Beto!” - e ele nos acudia com um nado espevitado que quase nos levava a delirar de que se tratasse de um cachorro.
          Numa dessas madrugadas de insônia macilenta, passei pela sala e acendi a luz. Onde estaria o peixe? Descobri que o beta dormia, como qualquer outro morador dessa casa. De pronto, devolvi-lhe a escuridão.
          Porquanto, hoje, o sol preenche todo o aposento e ele parece não perceber. Estaria cego? Foi esta a impressão que tive da última vez que tentei alimentá-lo. Parecia procurar por algo; talvez alimento, talvez vida... Não sei. O que sei é que ele não deveria ter impetrado aqueles olhos de alfinete dentro do meu coração de carne. Ah, isso não...
          Mas a vida não se esvai assim, de graça. O peixe luta e reluta, enquanto esgueira o corpúsculo na água, assim como um avião que toma distância para levantar vôo, mas não ganha o céu.
          O peixe está morrendo na praia de água doce, meus senhores, e não posso fazer nada. Posso apenas comprovar que vida nenhuma é banal, e torcer para que essa retorne das cinzas, para que o betta vermelho continue a ser o quarto morador dessa casa.






Nenhum comentário: