Triste, triste mesmo, é testemunhar a vida definhando. Seja ela de que
tipo for, sendo vivo, é triste ver morrer.
Neste exato momento, enquanto escrevo
essas linhas, divido a sala com um peixe betta que definha irreversivelmente. De
vez em quando volto o olhar para conferir se o peixe ainda luta. Em pensar que
há menos de um mês chegou assanhado a essa casa, com seu vermelho reluzente, o
mesmo que agora desbota gradativamente... Não dá para entender o porquê dos
bettas serem criaturas tão frágeis.
Ao invés de agitar as nadadeiras
bailarinas, arrasta-se pelos cantos do pequeno aquário tal qual um notívago que
foge da luz. Por duas vezes já tentei alimentá-lo sem obter sucesso. Outrora,
era certeiro nas bolotinhas de ração que pingavam na superfície da água,
golfando uma a uma sem qualquer cerimônia. Também outrora, o chamávamos -
“Beto!” - e ele nos acudia com um nado espevitado que quase nos levava a
delirar de que se tratasse de um cachorro.
Numa dessas madrugadas de insônia
macilenta, passei pela sala e acendi a luz. Onde estaria o peixe? Descobri que
o beta dormia, como qualquer outro morador dessa casa. De pronto, devolvi-lhe a
escuridão.
Porquanto, hoje, o sol preenche todo
o aposento e ele parece não perceber. Estaria cego? Foi esta a impressão que
tive da última vez que tentei alimentá-lo. Parecia procurar por algo; talvez alimento,
talvez vida... Não sei. O que sei é que ele não deveria ter impetrado aqueles
olhos de alfinete dentro do meu coração de carne. Ah, isso não...
Mas a vida não se esvai assim, de
graça. O peixe luta e reluta, enquanto esgueira o corpúsculo na água, assim
como um avião que toma distância para levantar vôo, mas não ganha o céu.
O peixe está morrendo na praia de
água doce, meus senhores, e não posso fazer nada. Posso apenas comprovar que
vida nenhuma é banal, e torcer para que essa retorne das cinzas, para que o
betta vermelho continue a ser o quarto morador dessa casa.
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