sexta-feira, 9 de setembro de 2016

À flor da pele

     As crianças foram cruéis com o menino. Não entenderam, ou não tiveram a oportunidade de entender, que ele havia passado por poucas e boas quando nasceu miúdo como bicho da maça. E havia renascido das cinzas no mínimo três vezes, daquelas que conseguimos contabilizar.
      O menino, que não é matemático, representa os 4% da genética materna e o 1% da genética populacional. E quando cresceu, descobriu suas cicatrizes. As crianças também as descobriram nele. Algumas fizeram chacotas.
        Ele chegou para a mãe chorando as pitangas que colheu na escola. Numa outra escola, aliás. Mas não se pode culpar as crianças pela ausência de entendimento. Um dia muitas compreenderão que as cicatrizes são carimbos de sobrevivência que a gente carrega ora na pele, ora no coração.
         A do menino é visível, em outros casos, porém, permanecem camufladas e doem por um bocado de tempo. Ninguém imagina que existam marcas tão profundas. 

Nenhum comentário: