sexta-feira, 11 de julho de 2008

Sonhos



Eu gostaria de ter um “pé de idéias”. Assim como existem pés de ameixa, manga e caqui. Uma árvore de onde brotassem idéias a qualquer hora do dia e em todas as estações do ano. Que mesmo a estiagem ou chuva intermitente, não inibisse a floração e crescimento de seus frutos, desenvolvendo-se sempre viçosa, em todos os tipos de solo, sejam áridos, úmidos, fortes ou fracos.
Se conseguisse sua semente, eu mesma a plantaria, regaria todos os dias, até que surgissem os primeiros brotos, e a planta pudesse ser podada. Prepararia várias mudas e as distribuiria para as pessoas, sem distinção de classe social, aparência ou inteligência. Decerto, esta árvore teria uma copa frondosa, que refrescaria nossa memória nos dias mais difíceis. O tronco seria resistente, suas raízes profundas e suas sementes, sempre férteis. Suas flores rústicas, de um branco pungente, desabrochariam singelas, dando vazão ao único fruto, pequeno. No seu interior, este fruto modesto conteria uma idéia criativa e honesta, capaz de melhorar a vida de quem o encontrasse.
O fantástico, seria que onde quer que estas árvores fossem plantadas, as idéias se espalhariam como o pólen de suas flores. Seu efeito seria diferente para cada indivíduo: o cirurgião desenvolveria uma nova técnica, ainda mais eficiente, que salvaria a vida de seus pacientes; o cientista chegaria em um protocolo excepcional para uma nova terapia; o arquiteto criaria um projeto sem igual para urbanizar uma grande cidade; o professor cativaria seus alunos com muita didática e criatividade; a criança inventaria brincadeiras novas e divertidas para distrair-se com outras crianças. A humanidade desfrutaria de uma realidade sem miséria e violência, porque a desigualdade seria extinta de nosso meio.
Mas, chegaria o dia, que por obra da própria natureza, um dos frutos amadureceria rápido demais, apodrecendo ainda no pé. A idéia em seu precioso interior, outrora pura e sem malícia, seria corrompida, ficando à espera de alguém que por descuido, a tomasse para si. Infelizmente, este alguém poderia ser qualquer um, inclusive eu. O resultado seria catastrófico. As idéias egoístas se espalhariam ainda mais rápido pela Terra e anulariam o efeito das idéias boas que porventura surgissem. A natureza humana colaboraria para que a ganância pelo poder se sobrepujasse às idéias simples, colocando-as como loucas aos olhos humanos.
Os homens, então orgulhosos, ostentariam suas idéias e se negariam a compartilhá-las para o bem da humanidade. Restaria apenas uma medida radical: as árvores precisariam ser cortadas pela raiz, para que as sementes contaminadas não se disseminassem. Contudo, nenhum homem saberia distinguir entre as árvores sadias daquelas doentes, por melhor que fosse sua intenção. Esta árdua tarefa teria que ser confiada a um jardineiro experiente, que solucionasse o problema, sem prejudicar as árvores saudáveis, de onde ainda poderiam brotar idéias decentes. Suas mãos habilidosas teriam a sensibilidade necessária para tocar sem destruir. Certamente, para concluir sua obra, daria seu próprio sangue. Afinal, a humanidade encontraria salvação!
Esta história me parece familiar, não só porque surgiu do devaneio de uma sonhadora. Acho que o “pé de idéias”, já existe.

Nenhum comentário: