Acabou. Foi o que
pensei ao me despedir de uma pilha volumosa de artigos científicos.Tratava-se
de centenas de artigos impressos, muitos dos quais encadernados, que acumulei
durante sete anos vividos entre doutorado e pós-doutorado.
Abarrotei o cesto de reciclados, que
ficou cheio até as bicas de tanta Ciência. A primeira sensação que me visitou
foi a de alívio, depois, a de saudade. E, por fim, a satisfação por vencer a
inércia daquele arquivo morto.
Mas, convenhamos que não acabou... Os
artigos estavam tão estagnados quanto inúteis, ocupando um canto remoto do
armário, onde eram somente lembrança. Agora se tornaram material com utilidade
para alguém que não conheço. Provavelmente, vão ocupar alguma carriola que
circula anônima pela cidade, e quem sabe ainda hão de se tornar moeda de troca
e garantir o pão na mesa desse alguém. Só por isso, valeu me desfazer de cada
parágrafo grifado com marca-texto amarela.
Pois, afinal, na vida, não se deve
temer o recomeço. E o que é reciclar, se não um recomeçar, sem ter de abrir mão
das nossas experiências idas, que um dia se tornam vindas e, por isso, bem
vindas.
Aquelas centenas de artigos reciclados
simbolizam o meu anseio por transformar esse passado em recurso que sacie a
fome de outrem.
Ah, eu sei...Nada tem sido por acaso.